30 de outubro de 2013

Petroleiros realizam greve histórica!

A luta contra privatização do Pré-Sal continua!
Caue Cavalcante, petroleiro do Litoral Paulista

Foram oito dias de uma greve nacional deflagrada em 17 de outubro. Todas as refinarias paralisadas, os portões dos terminais Transpetro trancados e diversas plataformas da Bacia de Campos (RJ) com a produção interrompida. Em muitas unidades, trabalhadores abandonaram o chão de fábrica e entregaram a operação aos grupos de contingência – formados por gerentes, supervisores e coordenadores. 

Aos mais céticos, a greve petroleira deu um recado categórico: os ventos de junho ainda sopram no país, forjando novas lutas e colocando em cena uma categoria operária estratégica. A exigência pela suspensão do Leilão de Libra foi o fator decisivo para a mobilização, embora a categoria também tenha se movimentado pela campanha salarial, convertendo as duas lutas numa só. Esta combinação garantiu a realização de uma greve histórica que representou um duro enfrentamento entre os petroleiros e o governo Dilma. 

Petroleiros diretos e terceiros do Litoral Paulista realizaram uma grande greve
Os petroleiros do Litoral Paulista entraram com força total na greve. Mais de 90% dos trabalhadores aderiram ao movimento na Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), nos terminais de Alemoa e de Pilões, assim como nas unidades do Litoral Norte (Tebar e UTGCA). A paralisação também afetou os prédios administrativos e as plataformas de extração (Mexilhão e Merluza). Como há muito tempo não se via, a sede sindicato dos petroleiros voltou a “ter casa cheia” em assembleias com centenas de trabalhadores. 

Mas não foi só. No refinaria em Cubatão, cerca de 4 mil petroleiros terceirizados, organizados pela Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), realizaram dois dias de greve. Com muita disposição de luta, os trabalhadores ocuparam a rodovia Cônego Domênico Rangoni e, com alicates na mão, cortaram a grade que separava as duas vias do principal acesso viário ao porto de Santos. Com a pista tomada pelos operários, uma grande assembleia foi realizada. Logo após, os trabalhadores tomaram a rodovia e as ruas de Cubatão numa grande passeata. A mobilização dos petroleiros terceirizados ganhou o noticiário da televisão e as páginas dos jornais. Mais uma vez, os operários deram uma grande lição de coragem e luta, além de obterem conquistas em sua pauta específica. 

Uma greve vitoriosa que enfrentou o governo petista
Depois de 1995, ano em os petroleiros realizaram por 32 dias uma greve radicalizada (com parada de produção e até ocupação), esta é sem dúvida a maior mobilização da categoria. E com uma semelhança fundamental: assim como em 1995, quando FHC pretendia vender a Petrobras e transformá-la em Petrobrax, neste ano a luta também foi contra a agenda privatizante do governo, que colocou em prática a maior privatização da história do país. 

Mas com uma diferença: se naquele ano a greve foi contra a cartilha neoliberal de FHC, em 2013 a luta se chocou contra a política do PT que em outros tempos estampava na campanha eleitoral de 1994 o seguinte cartaz: “Monopólio estatal do petróleo: só Lula pode assumir este compromisso”.
É verdade que a greve não foi suficiente para barrar o leilão, mas nem por isso o balanço é negativo. Pelo contrário, a mobilização da categoria colocou o leilão de Libra, antes invisível, em pauta na sociedade; aprofundou o desgaste do governo com sua política neoliberal, obrigando Dilma a se pronunciar em cadeia nacional de televisão; e colocou em luta uma categoria que, apesar de sua tradição, há muitos anos não protagonizava uma mobilização deste tamanho. Agora, os petroleiros também sabem, na prática, que é possível lutar e vencer. E mais, avançaram em sua experiência com o governo Dilma. Os discursos contra o governo e sua agenda privatizante eram os mais aplaudidos nas assembleias e atos dos petroleiros.

Neste ano, graças à greve, os trabalhadores conquistaram bandeiras importantes na campanha salarial como assistência médica para os aposentados da Transpetro e um fundo garantidor para os terceirizados, que sofrem com os calotes aplicados pelas empreiteiras. Além disso, a mobilização obrigou a empresa a aumentar o abono (R$ 7.200,00) e o reajuste na RMNR (8,56%), uma espécie de complemento salarial concedido apenas para os trabalhadores da ativa. Mais do que isso, a mobilização obrigou a Petrobras a recuar em uma série de ataques que ela tentava impor neste ano, tais como: a inclusão de metas para a PLR e de regimes de trabalho que reforçavam a lógica de produção a qualquer custo, que foram retiradas pela companhia diante da força da mobilização.

A greve podia mais!
 Com a maior mobilização de petroleiros desde 1995, a greve poderia arrancar conquistas importantes como o aumento real no salário base e fim da tabela salarial congelada. Porém, a direção da Federação Única dos Petroleiros (FUP), filiada à CUT, agiu para desmontar a greve em seu ápice, no dia 23 de outubro. No momento em que se mostrava mais forte e com mais condições de conquistar avanços importantes para a pauta reivindicatória da categoria, a FUP indicou a aceitação da proposta da empresa.

E o mais curioso, a FUP sinalizou o recuo apenas algumas horas após ter anunciado em sua página na internet a continuidade da greve. O acordo com a empresa teria saído em plena madrugada, na calada da noite. Como denunciou a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) em seu site, “o indicativo de aceitação foi baseado em uma mentira: a de que a Petrobrás havia garantido de que não realizaria punições. Pelo texto da proposta da empresa está claro que não é verdade. O que a companhia “garante” é “discutir com os sindicatos” antes de tomar qualquer medida sobre possíveis excessos cometidos. Oras, que garantia é essa? Nenhuma!”.

Os petroleiros tem que tirar as lições dessa traição da direção da FUP. O fortalecimento das oposições, que foram fundamentais na construção e fortalecimento da greve no Norte Fluminense (RJ), Duque de Caxias (RJ), Unificado (SP), entre outras bases, é decisivo nesse momento.  

A Luta contra as privatizações continua!
Os trabalhadores petroleiros realizaram uma experiência excepcional nesta greve. Arrancaram avanços econômicos, fizeram avançar a luta e a consciência contra as privatizações e realizaram uma mobilização histórica contra o governo do PT. E isso significa dizer que nada mais será como antes. A Petrobras e o governo terão muito trabalho daqui pra frente, pois a categoria sai fortalecida.

Embora o leilão de Libra não tenha sido suspenso, a luta continua. A tarefa da categoria e de toda a sociedade brasileira comprometida com a soberania nacional é lutar pela revogação do leilão de Libra. Nas ruas, a missão é continuar lutando pelo fim dos leilões e pelo monopólio estatal do petróleo, com uma Petrobrás 100% Estatal, pois o governo já sinaliza novas privatizações em outras bacias petrolíferas. A luta continua. 

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