1 de novembro de 2016

NOTA DE SOLIDARIEDADE AOS ARTISTAS E DE REPÚDIO À POLÍCIA MILITAR DE SÃO PAULO



Foi com enorme indignação que os moradores de Santos assistiram aos atos de repressão por parte da Polícia Militar de São Paulo à Trupe Olho da Rua, no último domingo, quando apresentava o espetáculo "Blitz - O Império que nunca dorme", a qual representava justamente os desmandos dos militares.
Nos vídeos que circulam nas redes sociais, percebe-se de maneira nítida que a peça transcorria normalmente, na Praça dos Andradas, no centro de Santos, quando diversos policiais, incomodados com a apresentação, passam a investir contra os atores e os espectadores, subtraindo-lhes até mesmo objetos pessoais, como celulares.

Mas, afinal, o que levou a PM de São Paulo a agir desta maneira? Terá sido apenas mais um mero rompante de truculência por parte de indivíduos despreparados a atuar junto à população, ou há algo mais por trás desta atitude?

Antes de respondermos a esta pergunta, vamos refletir um pouco sobre o papel da Polícia Militar e o papel da arte em nossa sociedade.


O que é arte? Por que às vezes ela é tão reprimida?

Arte nada mais é do que uma forma de expressão e representação da sociedade. Ela acompanha o desenvolvimento histórico da humanidade, refletindo, em maior ou menor grau, o mundo concreto em que se vive, seja na forma de música, cinema, teatro, pinturas, esculturas, etc.
Sabemos bem que muitas vezes os artistas foram alvo de repressão em nossa história recente. No período da ditadura militar, encerrado há apenas trinta anos, diversos foram as obras de arte censuradas, atingindo inúmeros artistas que ousavam se contrapor à realidade política de então.
Isto ocorre justamente porque uma boa obra de arte leva as pessoas a refletirem sobre sua realidade, ainda que não seja esta sua intenção imediata. A arte, em resumo, é um espelho distorcido da sociedade, produto de um tempo histórico determinado.

Após toda esta reflexão, chegamos à pergunta: por que os artistas de Santos foram reprimidos pela PM de São Paulo? Talvez porque o espelho em que se viram refletidos os policiais foi realista demais para ser assimilado por eles. Um espetáculo de teatro, exibido em praça pública, representando os desmandos da Polícia, foi uma afronta terrível demais para ser engolida pelos agentes da lei.


Mas, afinal, a quem serve a Polícia Militar?

Muitos pensam que a Polícia Militar serve para "proteger a população". Na verdade, esta instituição, criada em plena ditadura militar, serve para "colocar as pessoas em seus devidos lugares". Ou seja, ela serve para reprimir manifestações do povo e para garantir a integridade dos ricos, poderosos e corruptos. Não é para proteger as pessoas, mas para intimidar a população e evitar que ela se revolte que a polícia assassina a juventude negra nas periferias, etc.
Ela é utilizada quando outros meios não deram certo. Basta um exemplo: se o governo federal busca retirar direitos dos trabalhadores, com o apoio do legislativo e do judiciário, e mesmo assim as pessoas saem às ruas para protestar, lá estará a PM com suas bombas e suas balas de borracha para reprimir o povo.
Para cumprir este tipo de papel, é inadmissível que a autoridade policial seja questionada, mesmo em uma peça de teatro. Não se pode pôr o dedo na ferida, e quem o faz é imediatamente reprimido. Assim foi no domingo na Praça dos Andradas.




O que defendemos?

Diante de tudo isso, expressamos nosso incondicional e irrestrito apoio à Trupe Olho da Rua e a todos os artistas que lutam dia a dia por sua sobrevivência, seja nos fazendo rir, seja mostrando o lado incômodo da realidade, seja fazendo as duas coisas ao mesmo tempo, como ocorria no domingo.
Exigimos a mais ampla investigação e punição dos envolvidos, desde os policiais que participaram da ação, quanto de seus superiores, incluindo o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, que não por acaso é do mesmo partido do prefeito, Paulo Alexandre Barbosa.
Somos a favor da desmilitarização imediata da policia, rumo ao fim da polícia militar. A estrutura militar que nega o direito à organização sindical aos policiais e a hierarquia militar com seus treinamentos preconceituosos e castigos físicos é responsável pela formação de policiais violentos e defensores dos ricos e poderosos. A qual é treinada para a guerra contra sua própria população, característica esta que se deve principalmente ao fato de ter sido criada em um regime autoritário.
Defendemos a mais ampla liberdade artística e cultural, e estaremos ombro a ombro na luta pela garantia de liberdade de expressão prevista na Constituição, mas que jamais será alcançada na atual sociedade capitalista, motivo pelo qual lutamos por sua destruição e pela construção de uma sociedade verdadeiramente livre: a socialista.



Diretório Municipal do PSTU/Santos.

0 comentários:

Postar um comentário