3 de junho de 2014

PSTU realiza lançamento do livro 'Anarquismo e Comunismo', dia 11, em Santos


















Livro de revolucionário russo reacende uma antiga polêmica da esquerda em Santos

03/06/2014 - Apelidada de “cidade vermelha” na década de 1960, sobretudo pela influência do partidão (PCB) nos sindicatos e movimentos sociais da região naquele período, Santos voltará a ser palco de um debate que sempre forneceu grandes discussões à esquerda santista: as polêmicas teóricas e práticas entre anarquistas e marxistas.

Os simpatizantes das ideias de Karl Marx, de um lado, e Mikhail Bakunin, de outro, considerados respectivamente os pais do marxismo e anarquismo mundiais, terão a oportunidade de colocar o assunto mais uma vez em pauta no lançamento da publicação ‘Anarquismo e Comunismo’, do russo Evgueni Preobrazhenski.  A atividade acontecerá no dia 11 de junho, às 18h30, na sede do PSTU em Santos (Rua Júlio de Mesquita, 16, sala 1, Vila Mathias).

A obra, publicada pela primeira vez no Brasil, sintetiza a principal diferença histórica entre esses dois campos: enquanto os marxistas defendem a necessidade do Estado operário para garantir as conquistas da revolução rumo ao comunismo, os anarquistas são frontalmente contra qualquer forma de centralização governamental, defendendo a imediata supressão do Estado - mesmo que não seja burguês, mas sim operário.

O debate será conduzido por Henrique Canary, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU. Canary é professor universitário formado em História pela Universidade Russa da Amizade dos Povos (Moscou). “Nas jornadas de Junho, em 2013, pudemos testemunhar o surgimento de movimentos e ideias anarquistas, em toda uma camada de jovens e ativistas. Num momento em que táticas como a dos Black Blocs ganharam a simpatia de muitos lutadores, é fundamental entender os limites e as consequências práticas da teoria anarquista, bem como a necessidade da revolução socialista e do Estado proletário”, explica Canary.

O livro é um dos trabalhos mais importantes de Preobrazhenski, economista russo que foi membro do Partido Bolchevique na época da Revolução Russa, em 1917. Após a tomada do poder pelos bolcheviques, exerceu o posto de presidente do Comitê Financeiro da República Soviética.

Em relação à obra, Canary não esconde sua simpatia pelas ideias do autor. Para ele, o dirigente bolchevique acaba por demonstrar a incapacidade do pensamento anarquista em responder à complexa e contraditória realidade da revolução proletária. “De forma clara e compreensível, ele não só refuta os argumentos anarquistas contra a URSS, mas explica também a concepção marxista do Estado e as tarefas dos revolucionários frente a este”.

Livraria será inaugurada
Aproveitando a ocasião, o PSTU Baixada Santista promoverá a inauguração de sua livraria. Apesar de modesta, já fornecerá aos militantes de esquerda importantes obras publicadas pelas editoras Sundermann e Boitempo. Trotsky, Marx, Lênin, Engels e outros grandes teóricos do marxismo internacional estão entre os autores disponíveis.

No dia do debate haverá desconto de até 30% em diversos títulos das duas editoras. Àqueles que não tiverem condições de adquirir os livros, uma biblioteca com algumas obras importantes também será inaugurada. Por um valor simbólico de R$ 2,00, o interessado poderá emprestar qualquer livro por até 30 dias.

Saiba mais sobre o autor
Evgueni Alekseievitch Preobrazhenski nasceu em 15 de fevereiro de 1886, no vilarejo de Bolkhov, região de Oriol, Império Russo. Filho de um padre cristão ortodoxo, aos 17 anos se tornou membro da fração bolchevique do Partido Operário Social-Democrata Russo.

Preobrazhenski teve um papel importante na revolução de 1905, assumindo tarefas de organização partidária nos montes Urais e Sibéria. Formado em Direito, estudou também economia, e em 1921 foi eleito presidente do Comitê Financeiro da República Soviética.

Neste posto, se ocupou dos problemas do restabelecimento da produção e do abastecimento de grãos em todo o território russo. Com base nessa experiência, escreveu vários trabalhos sobre a planificação econômica e a necessidade de industrialização da URSS, sendo “A Nova Econômica” o mais importante deles. Neste livro, Preobrazhenski formula sua famosa teoria da “acumulação primitiva socialista”, que seria o resultado da luta estabelecida, nas sociedades de transição ao socialismo, entre a lei do valor como um resquício do capitalismo, e a planificação econômica como medida consciente do governo socialista.

Após a morte de Lenin, Preobrazhenski adere à Oposição de Esquerda e, junto com Trotski, se torna um dos mais consequentes defensores de uma linha industrializadora nas cidades e coletivista no campo. Em 1927, com o exílio de Trotski, passa a organizar clandestinamente o trabalho oposicionista. Posteriormente, é expulso do partido; e em 1929, exilado por organizar uma gráfica ilegal.

Com a coletivização forçada do campo e com a pesada campanha de industrialização do primeiro plano quinquenal conduzidas por Stalin, Preobrazhenski capitula e renega a Oposição de Esquerda. Porém, a perseguição stalinista continua, e em 1933 ele é novamente preso, expulso do partido e exilado, fazendo nova autocrítica em 1934. Em 1936, é mais uma vez preso; e em 1937, no auge dos processos de Moscou, executado.

Diferente de muitos outros dirigentes assassinados por Stalin, Preobrazhenski jamais confessou qualquer crime, reduzindo suas “autocríticas” aos aspectos políticos. Provavelmente devido a esta recusa altamente incoveniente para a burocracia dirigente, Preobrazhenski não chegou a ser levado a julgamento público, tendo sido fuzilado às escondidas, em circunstâncias que só foram conhecidas muito tempo depois. Até hoje seu nome é uma das principais referências nos estudos de planificação e política econômica de Estados operários.

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