16 de março de 2016

A odisseia de um terceirizado da Petrobras contra o desemprego

























Desde a explosão da Operação Lava Jato, cerca de 130 mil terceirizados da estatal foram demitidos; Raimundo Lima, caldeireiro, não está entre eles, mas não se sabe até quando. Nesta crônica da vida operária, Leandro Olimpio - jornalista e militante do PSTU - retrata um drama que é compartilhado por milhões de brasileiros: a ameaça do desemprego.


por Leandro Olimpio, para a revista digital Calle 2

A história de Ceará na Petrobras está guardada num sulfite A4. No bolso de trás da calça jeans, o currículo produzido para livrá-lo das assustadoras estatísticas de desemprego no país é apresentável. Está dentro de um papel pardo dobrado sem muito esmero, é verdade, mas esse detalhe parece ser capricho na vida de um operário que corre contra o tempo para não interromper uma história de 19 anos na Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão, que fica encravada no pé da Serra do Mar, no litoral de São Paulo.

Ceará, que é Raimundo Lima na certidão de nascimento, entrou em greve no dia 14 de fevereiro com uma tarefa espinhosa: escapar de um exército cada vez mais numeroso, o de terceirizados demitidos no Sistema Petrobras. E não se meteu sozinho nessa briga. Todos os dias, por volta das 7 da manhã, passou a se reunir com os colegas de trabalho na porta da refinaria para − religiosamente − tomar a mesma decisão: permanecer em greve. Assim que os dirigentes do Sintracomos (Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, Montagem e Manutenção Industrial) fechavam a assembleia, perguntando quem era a favor de seguir com o movimento grevista, erguiam os braços simultaneamente e soltavam gritos eufóricos para dizer em alto e bom som que ninguém ali abandonaria a luta. Certo dia, para surpresa e tristeza geral, um dos operários levantou o braço em defesa do retorno ao trabalho. Todos olharam pra trás, procurando o infeliz que resolveu quebrar a unanimidade. Era brincadeira.

Envolvendo cerca de 220 operários, não foram poucas as razões para a deflagração da greve. No fim do ano passado, a empresa em que Ceará trabalha, a MCE Engenharia − prestadora de serviços de manutenção na refinaria −, demitiu cerca de 20 trabalhadores e atrasou o pagamento de salários, participação nos lucros e benefícios. A situação, aparentemente pontual, se agravou. Calote no pagamento das férias de alguns funcionários, calote nas verbas rescisórias dos demitidos, calote no vale-alimentação. Os gerentes, que antes pediam compreensão, adotaram uma postura escorregadia e ignoravam os questionamentos sobre os atrasos. “Só repetiam não sei, não sei”. A quebra definitiva parecia uma questão de dias, mera formalidade. “Chegou uma hora que não tinha mais luva pra trabalhar, não tinha copo descartável pra tomar água”, lembra Ceará.

Alguns dizem que a ficha demorou a cair, percepção reforçada pela lembrança daqueles que até hoje buscam na Justiça as verbas rescisórias da Calorisol − empresa que antecedeu a MCE. Dessa experiência, ficaram duas lições. A primeira, garantir o pagamento de todos os direitos antes que a empresa resolva sumir − o que acontece com certa frequência. E, a segunda, lutar para que todos sejam admitidos pela empresa que for assumir o contrato com a Petrobras.

Por isso, Ceará não perdeu tempo e enfiou o seu currículo no bolso. Mas seria besteira reduzir sua história e chance de futuro a um pedaço de papel. O destino de um terceirizado que trabalha na manutenção da Petrobras depende muito mais do fiscal do contrato − função ocupada por um petroleiro concursado − do que de qualquer avaliação da empresa que irá assumir o serviço. Sempre foi assim, a nova empreiteira é oficialmente quem escolhe os funcionários, mas na prática o fiscal tem o poder de estipular quem ele quer que permaneça na Petrobras. A batalha, portanto, é ser um dos escolhidos para continuar na refinaria.

Ler a matéria completa em:
http://calle2.com/a-odisseia-de-um-terceirizado-da-petrobras-contra-o-desemprego/

2 comentários:

Tive de demitir, a pedido dele, um bom funcionario que tomava conta de meu sitio.
Embora o salario, 13¤ e ferias estivessem pagos, ainda tive de pagar quase 6 salarips mensais de indenização. Imagine o patrão, sem receber da contratante, a Petrobrás, ter de demitir todos os funcionários de vez.
O que as empresas ganham após mão de obra e tributos muitas vezes não passa de 10/15%.
Como pagar quase 1/2 faturamento anual só de indenizações trabalhistas?
Solução: Sair de fininho.

Tive de demitir, a pedido dele, um bom funcionario que tomava conta de meu sitio.
Embora o salario, 13¤ e ferias estivessem pagos, ainda tive de pagar quase 6 salarips mensais de indenização. Imagine o patrão, sem receber da contratante, a Petrobrás, ter de demitir todos os funcionários de vez.
O que as empresas ganham após mão de obra e tributos muitas vezes não passa de 10/15%.
Como pagar quase 1/2 faturamento anual só de indenizações trabalhistas?
Solução: Sair de fininho.

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