18 de agosto de 2015

Comunidade da Serra do Mar luta pelo direito a um teto




Ao mesmo tempo em que dá esperança às comunidades vizinhas que vivem drama semelhante, mobilização dos moradores da Água Fria, bairro de Cubatão (SP), começa a incomodar classe política antes indiferente

A comunidade de Água Fria, bairro localizado na encosta da Serra do Mar em Cubatão (SP), tem se levantado e mostrado força para lutar por um direito básico: um teto. Condenados pelo CDHU à expulsão do bairro sem a garantia da moradia, a comunidade tem se organizado, realizado reuniões, assembleias e protestos. Embora nada tenha sido conquistado ainda, é nítido o crescimento da organização da comunidade. A cada ato, a cada atividade nova, mais moradores se somam à luta, mostrando a força que o povo tem quando se organiza e luta por seus direitos.

Com a repercussão dos atos realizados em frente à Prefeitura, moradores de outros bairros que também convivem com o drama da moradia estão se unindo ao movimento. Os governantes, antes indiferentes, agora se sentem pressionados e obrigados a dar respostas às demandas dos moradores.

Os governantes estão assustados com o movimento. No dia 26 de agosto, um novo passo será dado. A comunidade se reunirá com a CDHU, a prefeita de Cubatão, Márcia Rosa (PT) e o procurador de Justiça. Mais uma vez, as comunidades vão botar o bloco na rua em defesa de moradia digna!

Histórico da comunidade
A comunidade de Água Fria é formada por 600 famílias de trabalhadores, principalmente da construção civil de Cubatão, onde ficam empresas importantes como a Petrobrás e Usiminas (antiga Cosipa).

O bairro tem mais de 40 anos e a população vive uma situação de total abandono. A CDHU (companhia de Habitação comandada pelo Governo do Estado de São Paulo, Alckmin – PSDB) quer desocupar a área, expulsar as famílias, e não garante moradias: oferece apenas um auxilio aluguel de 400,00 reais (300,00 do CDHU e 100,00 da prefeitura de Cubatão).

Não existem alugueis de casas em Cubatão por esse valor. Os alugueis são pelo menos o dobro! Além disso, as famílias que aceitaram o auxílio aluguel e saíram de suas casas hoje sofrem com os atrasos no benefício, que chega a atrasar 4 meses. Por isso, os moradores resolveram arregaçar as mangas e ir à luta.

Avanço na luta da comunidade de Água Fria coloca medo nos governantes
O movimento, antes restrito a algumas ações isoladas de lideranças do bairro, começou a ganhar corpo com uma assembleia na comunidade no dia 4 de julho. Realizada numa igreja evangélica do bairro, em pleno sábado chuvoso, estavam presentes cerca de 80 moradores. Uma vitória.

Nesta assembleia, onde a CSP-Conlutas esteve presente e levou assessoria jurídica, foi eleita uma comissão de representantes e foi decidido organizar um protesto no Centro de Cubatão. No dia 14 de julho, os moradores fizeram um grande protesto em frente à prefeitura e à Câmara de Vereadores de Cubatão denunciando o abandono do Governo Alckmin (PSDB) e da prefeita Márcia Rosa (PT) em relação à comunidade e exigindo apoio efetivo da prefeitura e da Câmara à luta por moradia.

“O protesto mostrou que o povo de Água Fria está disposto a lutar por suas casas e direitos. Não aceitamos sermos jogados no olho da rua com um auxílio aluguel de apenas quatrocentos reais. Qualquer trabalhador sabe que não dá pra alugar nada com esse dinheiro”, afirma Roberto Soares, uma das lideranças do bairro e um dos membros da comissão de representantes da Água Fria.

A partir da pressão do protesto, a comunidade de Água Fria conseguiu marcar reuniões da comissão de representantes dos moradores com a prefeitura e a Câmara de Vereadores. O movimento teve um resultado prático importante já: conquistou a manutenção da estrada e da rede de iluminação do bairro e uma reunião com todas as autoridades envolvidas no conflito: a justiça, o governo do estado, prefeitura e policia ambiental no dia 26 de agosto.

A luta começa a envolver novos bairros
O movimento está crescendo e outras comunidades da Serra do Mar estão se organizando. O Conjunto Habitacional Rubens Lara está entrando na luta. O conjunto tem 1.800 famílias que foram pressionadas pelo CDHU a deixarem suas casas e agora sofrem com graves problemas estruturais nos prédios, além de contratos abusivos com prestações altíssimas.

Os contratos mais absurdos são os dos idosos que acabam falecendo. A CDHU toma o apartamento de volta e não paga um real à família. Várias famílias já foram expulsas dos apartamentos pela CDHU por não conseguirem pagar as prestações e estão voltando a morar em favelas. Os moradores das Cotas e Pilões também demonstraram interesse na luta. O povo está indignado e quer se unir para lutar.

Os vereadores (a maioria defensores do governo Alckmin) e a prefeita Márcia Rosa (PT) agora, “do nada”, resolveram apoiar o movimento. Entretanto, a verdade é que eles estão preocupados com o crescimento da luta dos moradores de Água Fria. Sabem que é real a possibilidade da luta crescer ainda mais, se espalhar pelas comunidades da Serra do Mar e formar um grande movimento capaz de questioná-los. Caso cresça e se unifique, este movimento será capaz de disputar os rumos do projeto Serra do Mar, que hoje só favorece as empreiteiras e bancos.

Opressão do povo disfarçada de ambientalismo
O governo Alckmin faz uma grande propaganda do Projeto Serra do Mar como uma iniciativa ambiental e social que está acabando com a pobreza das ocupações da Serra do Mar e protegendo a natureza. Isso só acontece na propaganda. Os moradores são pressionados a sair com ameaças de despejo. Como o auxílio aluguel é de apenas 400 reais e as prestações do apartamento são muito caras, muitas vezes os trabalhadores voltam a morar em situação de risco.

A verdade é que a questão ambiental vira caso de polícia quando são famílias de trabalhadores, de gente simples que estão ocupando as áreas. Já para a destruição ambiental vinda dos grandes empresários, o governo faz vista grossa. Os ricos e poderosos poluem o meio ambiente com suas indústrias em Cubatão, constroem casas em área de proteção ambiental nas encostas São Pedro e Iporanga (Guarujá) e até condomínio fechado com praia particular em área de proteção ambiental, como a Riviera de São Lourenço, mas para eles não existe desocupação forçada.

Moradia está virando privilégio em Cubatão e em todo Brasil
No Brasil, a situação não é diferente. Apesar de ser um país muito rico, a sexta maior economia do planeta, amarga graves problemas sociais. Os governos repassam a riqueza produzida pelos trabalhadores para os banqueiros e grandes empresários, que financiam suas campanhas eleitorais. E o povo trabalhador fica na miséria. Segundo o IBGE, faltam 7,9 milhões de residências no Brasil e 25% da população (52 milhões de pessoas) têm condições precárias de moradia.

Os projetos de habitação, sejam do governo estadual (CDHU) ou do governo federal (Minha Casa Minha vida) são sempre um bom negócio para as empreiteiras que faturam bilhões e um péssimo negócio para os moradores, que ficam endividados para o resto da vida.

Quem constrói a riqueza produzida no país merece ter onde morar. “Cubatão é uma das cidades que mais produz riqueza no estado de São Paulo e no Brasil, não é justo que a gente perca o sono por não saber se amanhã teremos uma casa pra viver”, desabafa Roberto.

Dinheiro para os banqueiros e grandes empresários sempre tem, afinal o governo repassa metade do que arrecada para os banqueiros com a finalidade de pagar a tal dívida pública. Uma grande parte vai para a corrupção e só na hora de garantir os direitos dos trabalhadores o dinheiro falta? É hora de construir um forte movimento por moradia que garanta casas aos trabalhadores de Cubatão de todo o País. Por isso, a CSP-Conlutas está apoiando com todas as suas forças esta luta!

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