No dia 12 de agosto, estudantes da Unifesp realizam ato em frente à Polícia Federal contra perseguição. Acima, cartaz com convocação para protesto contra possível indiciamento.
Sete estudantes da Universidade Federal de São Paulo, na Baixada Santista, receberam intimações pela Policia Federal durante a semana passada por conta de acusações da ex-diretora do Campus, Regina Spadari, relacionadas a acontecimentos no final do ano de 2014.
Esses estudantes correm o risco de serem indiciados por reagir contra o ato racista feito pela ex-diretora. Ela alega que os estudantes a chamaram de racista e os acusam de uma picharão na porta da direção com os escritos: “Direção Racista”.
Os fatos são: o trabalhador Ricardo, terceirizado que foi agredido em frente a universidade e posteriormente assassinado na rua de sua casa em 2013 por policiais, criou um fato político e muita indignação da comunidade ao entorno e dos próprios estudantes, professores e trabalhadores da universidade.
Na época, a direção se calou diante aos fatos. Em agosto de 2014, fizemos um ato em memória do trabalhador completando 1 ano de sua morte. Fizemos uma passeata na região do acontecido junto com os moradores e colegas de Ricardo. Em novembro, aconteceu a 2° Semana da Consciência Negra na universidade e como sempre a organização ficou a cargo de uma professora do curso de Serviço Social (uma das poucas negras da docência) e alguns estudantes.
Nessa semana, rolaram várias mesas de debates e atividades nas quais foram convidados os colegas de Ricardo e moradores, dentre eles jovens e crianças, para participarem dessas atividades. Afinal, a universidade é um espaço público e as atividades não tinham como único objetivo atingir a comunidade interna.
Em um dia da semana, enquanto alguns desses jovens convidados estavam no laboratório da universidade para esperar o começo da próxima atividade, chegou a ex-diretora junto com dois seguranças patrimoniais da universidade com o intuito de expulsar esses jovens do laboratório, alegando que “ali não era uma lan house” e pediu a retirada deles da universidade, pois só poderia usar aquele espaço pessoas que tinham algum vínculo na universidade.
Pois bem, esses jovens saíram e continuaram no laboratório outros estudantes da universidade, dentre eles, na primeira fileira de computadores, quatro estudantes, dentre elas duas negras e duas não negras. Nesse momento, a ex-diretora indagou se essas eram estudantes, e elas confirmaram. Não satisfeita, pediu a identificação e logo aí se dirigiu apenas às estudantes negras, deixando as outras sem esse questionamento.
As quatro estudantes a questionaram porque o pedido foi apenas para as duas. Para disfarçar, a então diretora pediu de outro estudante que estava no local (clique aqui e assista ao vídeo). Imediatamente, essas duas estudantes (com outra estudante que presenciou tudo) foram à delegacia para prestar queixa de racismo por parte da diretora. Inclusive, essa última estudante que era não negra foi testemunha a favor das outras duas estudantes que sofreram a discriminação.
Detalhe: essas duas estudantes que sofreram racismo estão sendo também indiciadas.
Destrinchando o caso
Por que a diretora pediu apenas a identificação das duas estudantes, sendo que tinham diversos estudantes por lá? A expulsão dos jovens foi por qual motivo, já que a universidade recebe pessoas que não tem nenhum vínculo com a universidade, seja para participar de debates, atividades ou utilizar a biblioteca e os computadores? O espaço é público apenas para quem agrada? E as estudantes que sofreram racismo, por que estão sendo intimadas? Elas a difamaram quando se defenderam do racismo que sofriam?
A realidade é que essa ex-diretora, reunindo diversos fatos que já aconteceram durante 4 anos de sua gestão, fez da universidade “um quintal de sua casa”, onde só entra quem ela permite através de ordens passadas à vigilância.
A serviço de quem está a universidade? A direção da UNIFESP está mostrando que é para as elites brancas e não para o pobre, preto, periférico que inclusive está aos arredores da universidade e nem se quer pode conhece-la. Existe uma nave dentro do bairro Vila Mathias e esses jovens são excluídos em entrar nela. Uma verdadeira divisão de classes e racial.
Os estudantes que estão sendo indiciados não estavam envolvidos com a acusação, deixando claro a criminalização do movimento estudantil. Existe uma perseguição descarada com os militantes que expõem suas posições.
O movimento estudantil está sendo ameaçado e perseguido. É necessário que todos e todas estejam nessa luta contra a criminalização dos movimentos sociais, se solidarizando com os companheiros da UNIFESP indiciados pela PF. Neste sentido, chamamos todos os coletivos, movimentos e entidades a divulgarem notas de repúdio a essa atitude.
O movimento estudantil da Unifesp está organizando atos no horário dos depoimentos dos estudantes em frente à Policia Federal para mostrar a indignação contra essa acusação.
O primeiro depoimento será de Mauricio de Oliveira Filho, no dia 12 de agosto, às 11h; em seguida, Lana Carolina Zizo, dia 19, às 9h; Dia 25, os estudantes Damiso Ajamu, às 10h, e Maria Clara Soares, às 10:30h; dia 26, às 10h, Juliana Florentino; às 10h30, Tatiane de Souza Santos; e às 11h, Bianca Bittencourt.
Todos e todas à Policia Federal, onde estarão depondo nesses dias e horários os ativistas perseguidos. Endereço: Rua Riachuelo, 27, Centro, Santos/ SP.
- Todo o apoio aos estudantes indiciados!
- Abaixo o racismo e todo tipo de opressão!
- Contra a criminalização dos movimentos sociais!
- Vamos todas (os) à luta!
1 comentários:
Fora esse caso, houve um outro no início de 2014, no qual um veterano branco pintou uma caloura negra de branco dizendo que a partir daquele momento ela estaria apta a ingressar na faculdade. Um verdadeiro absurdo que a direção deixou passar. Fora outros casos de machismo que também não houve nenhuma atitude por parte da direção.
Postar um comentário