9 de agosto de 2012

Por que nos organizamos para lutar contra o machismo?

Ato do 8 de março de 2010 em SP
Por Tamiris Rizzo (16.123) candidata a vereadora em Santos pelo PSTU.


Se há um consenso entre nós é que nós mulheres fomos educadas para aceitar e não para questionar o mundo e suas coisas. Sentimos na pele todos os dias o que é sermos permanentemente avaliadas por tudo e por todos: na hora de se vestir, de falar em público, e se relacionar com as pessoas, nossas atitudes, e um longo etc..Isso acontece porque existe uma grande falsa ideologia propagada amplamente em nossa sociedade que diz que as mulheres, por serem mulheres, são inferiores aos homens; essa ideologia chama-se machismo.
Essa construção social e a formação dessa ideologia nos cobram um preço todos os dias, basta vermos os dados de violência, a maneira como somos tratadas na mídia, o assédio que sofremos e não atoa essa expressão assim como toda e qualquer ideologia deve servir a algum fim e o machismo serviu e serve como instrumento para o aumento da exploração de uns seres humanos sobre outros.Vejamos melhor..
Em seu livro “Sexo contra sexo ou classe contra classe” Evelyn Reed nos desvenda a partir de seus estudos sobre antropologia e sociologiao papel que nós mulheres cumpríamos nas sociedades pré-classistas, ou seja, em que não havia divisões entre as classes, e para a surpresa de muitos éramos as maiores responsáveis pela arquitetura, pela construção das “casas”, coordenávamos o plantio de gêneros, dominávamos o ofício da modelagem em cerâmica sendo uma das principais responsáveis pela construção das principais ferramentas para além de utensílios e recipientes, esculturas, objetos novos, sendo as principais responsáveis pelas primeiras formas de  transmissão da cultura, tínhamos papel de destaque na participação e nas decisões coletivas das comunidades. A divisão de trabalho entre homens e mulheres existia, mas era discutida coletivamente e determinada de acordo com a possibilidade dos indivíduos, sem que isso significasse mais valor ou não por determinadas atividades como a caça, a pesca...nessa sociedade, conhecida como matriarcado, nossa liberdade sexual era garantida, podiam existir tanto famílias acasaladas, por assim dizer monogâmicas ou não, ficava a determinação dos sujeitos essa decisão.
Pois é, com o avanço do capitalismo e da divisão da sociedade em classe tudo se modifica. Para provermos herdeiros legítimos da propriedade privada da terra, as mulheres perdem sua liberdade sexual e foram reclusas dentro dos lares, deixaram de ser protagonistas para serem subjulgadas e isoladas umas das outras e de sua comunidade. A divisão que existia passou a ser determinada pelas leis do mercado, a mulher passava a ser responsável pela esfera do lar, do cuidado com os filhos e da reprodução da vida, apenas.
Essa retrospectiva é importante primeiro para dizer que a opressão não é natural, não somos inferiores por natureza e nem sempre fomos subjulgadas e inferiorizadas pelo machismo. Em segundo, dizer que nossa liberdade e nosso protagonismo foram tolidos por essa sociedade de classes, em que o machismo foi incorporado pelo capitalismo para poder avançar seu nível de exploração, assim, fomos e ainda somos as  responsáveis pela “manutenção da força de trabalho”, limpando a casa, preparando a comida, lavando o uniforme dos homens para que no dia seguinte eles estejam no trabalho para como camelos produzir, produzir e produzir, oferecendo cada vez mais lucros aos patrões.

Aos que dizem que o machismo acabou...
A quem diga que o machismo acabou, que temos muitos mais direitos, que somos um bando de feministas loucas e por ai vai. De fato muita coisa mudou, estamos hoje no mercado de trabalho, estamos na construção civil, estamos na rua usando mini-saia, e temos inclusive uma mulher na presidência. No entanto, cabe aqui uma reflexão: O que de fato mudou?
Estamos no mercado e trabalho, mas continuamos sendo prisioneiras do lar, pois além de trabalhar e muito e ainda não receber o mesmo que os homens, ainda trabalhamos em casa, para fazer um trabalho que as empresas deveriam fazer, nós o fazemos para nossos companheiros e para nós agora..lavamos, passamos, cozinhamos, pois ambos temos que trabalhar cedo no dia seguinte. Quando muito não temos uma jornada tripla de trabalho, trabalhar, cuidar da casa e ainda estudar, a final somos mais cobradas por nossa formação e nosso mérito no trabalho, pois ai também somos avaliadas, e muito.
Estamos em postos de trabalho que eram tipicamente masculinos, no entanto estamos realizando nesses postos os piores e mais precários trabalhos, limpando o rejunte de azulejos, a final somos “mais caprichosas”, trabalhando com eletrônica, mas encaixando pecinhas minúsculas em placas enormes, a final “temos mais paciência”, trabalhando nos serviços terceirizados e precarizados.
PSTU na Marcha das Vadias em Porto Alegre
Quanto à mini saia e a possibilidade de usar o que quisermos, nem vou comentar. Basta o numero de 5 espancamentos a cada 2 minutos no Brasil, que mostra que não podemos exercer nossa liberdade pois o Estado sequer nos oferece proteção para podermos usar o que quiser sem sermos estupradas.
O fato de ter uma mulher na presidência ou o maior numero de ministras em um governo, não impediu o corte de 5 bilhões para a área de combate a violência sexual à mulher, nem avançou para a construção das delegacias da mulher e casas abrigo, ou garantiu que o número de 6427 creches prometidas na campanha eleitoral se efetivassem, foram construídas ridículas 39 creches até o fim de 2011!
Tudo isso nos mostra que o machismo está a serviço de alguns que detém o poder econômico e político de uma classe sobre outra. O empresário não paga igual para mulheres e homens porque se a mulher ganha menos ele pode rebaixar o salário do conjunto dos trabalhadores. As ideologias de que somos mais caprichosas, temos mais paciência, somos melhores cuidadoras, conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo, são utilizadas por eles para nos oferecerem os piores e mais precários postos de trabalho e imporem a dupla ou tripla jornada de trabalho. A conivência daqueles que governam para essa mesma classe se expressam nessas coisas, na ausência de lavanderias e restaurantes coletivos, de creches públicas, de leis que garantam licença maternidade e paternidade, salário igual para trabalho igual, deste modo os governos reproduzem o machismo a final a responsabilidade dos filhos continua na mão de quem? O cuidado do lar? Qual dos lados o governo ajuda ao não garantir leis que obriguem creches nos locais de trabalho, igualdade salarial, lavanderias e restaurantes coletivos e públicos?
  O lado dos governantes e a importancia da nossa organização
Se um lado ganha, o outro perde. Dilma, Miriam Belchior, Michelle Bachelet, Cristina Kirchner, todas elas cortaram e muito os orçamentos para as áreas sociais de valores que seriam destinados a saúde, habitação, educação, moradia, combate a violência; isso porque governam para os empresários e banqueiros, porque acha que os trabalhadores que deverão pagar a conta dessa crise que se avizinha. Essas mulheres não precisam de salário igual para trabalho igual, não precisam de creches públicas, delegacia da mulher, casas abrigos, saúde pública de qualidade, educação pública. Todas nós mulheres sofremos opressão, mas há de se convir que essas mulheres não sofrem o mesmo tipo de opressão que suas empregadas domésticas. É preciso governar para os trabalhadores.
Nos organizamos para lutar contra o machismo porque é impossível construir uma nova sociedade baseada na inferiorização e subjulgamento de uns pelos outros. Mas sobre tudo, lutamos contra o machismo, pois essa é uma ideologia fundamental para garantir a exploração e divisão do conjunto dos trabalhadores que produzem toda a riqueza existente. É impossível uma revolução sem as mulheres, mas é impossível a luta das mulheres ser conseqüente se não tivermos como aliados os homens trabalhadores na luta contra a exploração, contra opressão. O machismo atua para impedir que os homens vejam as mulheres de igual pra igual, impossibilita que se enxerguem como aliados contra essa sociedade que mata, explora, oprime
 Nós mulheres, que assumimos um lado nessa história precisamos nos organizar! Não somos uma soma de individualidades, somos uma expressão de carne e osso de uma ideologia, de um fenômeno que infelizmente só cresce. Ainda que cada um tenha sua subjetividade, nossa exploração e opressão é concreta e precisa ser transformada em ações coletivas e unitárias.Uma das coisas positivas por ter saído da esfera doméstica é exatamente podermos nos organizarmos de maneira coletiva na sociedade, fazendo a luta por uma nova consciência, por locais de trabalho, podendo participar dos sindicatos, por locais de estudo, construindo o movimento estudantil, dos movimentos sociais, e os partidos políticos. 
A mulher na política não se resume ao direito ao voto, a poder concorrer as eleições, mas também e principalmente da nossa organização cotidiana para lutar contra as injustiças sociais, o melhor e mais importante terreno de intervenção para a mudança. E as organizações que optam em defesa de um programa como esse, que assumem essa postura de classe e de luta, que se submetem a democracia e as deliberações coletivas respeitando a autonomia desses fóruns, não podem ser vistas como inimigos, mas como aliados na luta por uma nova sociedade sem classes, sem machismo, racismo ou homofobia.
A construção do PSTU está a serviço dessa batalha, na luta contra qualquer forma de opressão e exploração!

1 comentários:

Segue um vídeo complementar ao texto sobre a importancia da organização das mulheres!

http://www.youtube.com/watch?v=NGIWxUZf_pw

Esse vídeo foi gravado no I Encontro de Mulheres da CSP-Conlutas- Central Sindical Popular e estudantil!

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