29 de agosto de 2012

29 de agosto em Santos: Dia da (in)visibilidade lésbica

Por Tamiris Rizzo, 16123 candidata a vereadora em Santos pelo PSTU

                                                                                                                                                  "E a gente vai à luta, e conhece a dor, consideramos justa toda forma de amor."

Hoje, dia 29 de agosto, é celebrado o dia da visibilidade lésbica. Queria então nesse dia escrever sobre a homossexualidade na cidade de Santos. Queria escrever sobre a necessidade da existência de um dia, que avise para o país que as lésbicas existem. Você pode ter as conhecido como sapatão, caminhoneira, machona, cola velcro, rachas e uma infinidade mais de termos. Essa é a mesma sociedade que te ensina que o certo é João e Maria, e que o João manda e Maria obedece se não apanha, que te educou a achar que toda lésbica tem um esteriótipo, que te falou que as lésbicas foram “mal comidas” e por isso viraram lésbicas, que te mostrou que não é coisa de Deus, é pura promiscuidade. E que assim justificou o seu espanto ao ver duas mulheres juntas, que lhe concedeu o direito de achar que você podia entrar no meio porque certamente estava faltando algo. Essa sociedade é a mesma que hoje chega ao lastimável dado de a cada 36h um homossexual ser morto no país, nos colocando no vergonhoso ranking de ser o país que mais mata homossexuais.
Parece chocante o palavriado usado acima, mas chocante na verdade são os dados e a realidade das mulheres lésbicas e dos LGBT´s. A cidade de Santos é hoje a 3ª cidade que mais mata homossexuais no Estado. Apesar da capital ter 27 vezes mais moradores que a cidade de Santos, o número de assassinatos não acompanha esse índice ficando 13 vezes maior! Segundo estudo realizado pelo IPAT (pesquisa a tribuna) que entrevistou 600 pessoas em dezembro de 2010, demonstrou dos homossexuais que responderam a pesquisa e já sofreram algum tipo de violência, 59,1% afirmam que a intolerância está aumentando na cidade. Dos que afirmam ser heterossexuais, 13,7% desaprovam a homossexualidade, 25,5% julgam que os homossexuais são depravados 14,8% acham que são doentes e 7,4% denominam como uma ameaça à sociedade.

Santos: Uma cidade que violenta os oprimidos
Essa opinião relatada na pesquisa tem haver com uma política consciente da cidade de difundir a homofobia, o machismo e o racismo. Vamos aos fatos. Não precisa ser um velho morador da cidade para saber que o lugar dos LGBT´s é em São Vicente e olhe lá, que nossa sexualidade, nosso lugar de trabalho e estudo, nosso lazer não podem ser vividos aqui em Santos. Não precisa muito tempo em frente a TV no horário eleitoral, para ouvir um festival de conservadorismo e preconceito dos candidatos enaltecendo o papel da família (monogâmica e heterossexual, é claro)  e da igreja, como se esses fossem a salvação de todos os “problemas”. Basta abrir o caderno policial dos periódicos da cidade para vermos o aumento dos casos de estupro às mulheres e sua total desproteção à violência e a perseguição da polícia à juventude negra da periferia, no suposto combate da “guerra ao tráfico”. Na Santos para todos como afirmam várias candidaturas à prefeitura da cidade, não cabem os homossexuais. Permanentemente esses dados são ignorados, e não é apresentada nenhuma política específica para que se reverta à violência física, moral e psicológica aos setores oprimidos dessa cidade.
Porque abordar o tema da homossexualidade em conjunto com o tema do machismo e do racismo? Porque para nós, essa sociedade capitalista, se utiliza das nossas diferenças e as transforma em profundas desigualdades. A mulher lésbica é discriminada por sua orientação sexual mas também sofre o machismo, porque o capitalismo não consegue conviver com o fato de que uma mulher não possa ser uma propriedade de um homem, que dois seres  ditos “inferiores” possam juntas constituírem vidas, família, e etc.  Um homem homossexual, sente o preconceito por sua orientação sexual, mas sofre também com o machismo, porque ele foi moldado não só para sentir apenas atração pelo sexo oposto, mas também por ter sido obrigado a sustentar um esteriótipo , um comportamento heteronormtivo, de masculinidade, virilidade, e assim por diante. E isso vale também para os heterossexuais, que foram educados a ter que ser os pegadores, os que não choram, os que “limpam sua honra” do jeito que for necessário. E se você for LGBT e negro, fim de papo. É uma opressão difícil de ser quantificada e expressada, tamanha dor e sofrimento.
Há algum tempo, a sigla GLBT foi alterada para LGBT, no sentido de que a luta das lésbicas ganhasse mais visibilidade. No entanto, apesar dessa mudança, pouco de fato mudou na condições de vida das mulheres lésbicas. E pouco mudou, exatamente porque os governos não querem se enfrentar com o capitalismo e as grandes empresas que se utilizam da da opressão para aumentar a exploração. Na “carta ao povo de deus” Dilma já anunciava que seu “ponto de equilíbrio” estava no sentido oposto da garantia e pautas históricas do movimento LGBT e de mulheres. Ela dizia:
“A família sempre foi e sempre será o baluarte de uma sociedade saudável. Quanto mais estruturada é a família, menos caos social teremos (...)Compreendemos o quanto às igrejas, todas sem distinção de denominação cristãs, são importante e necessárias nesse projeto de apoio e resgate da família e da sociedade(...) Lembro também de minha expectativa de que cabe ao congresso nacional a função básica de encontrar um ponto de equilíbrio  nas posições que envolvem valores éticos fundamentais, muitas vezes contraditórios, como aborto, formação familiar, união estável, e outros temas relevantes, tanto para as minorias como para toda sociedade brasileira”.
Contraditório, não saudável e nada ético, é:  Termos a primeira mulher presidenta do país e o aumento violento da violência a mulher, sermos o país que a cada 2 minutos tem 5 mulheres espancadas; é  um corte de 5 bilhões de reais para o financiamento ao combate a violência a mulher; é estar entre a 2º e 3º maior causa de mortes maternas no Brasil o aborto clandestino; é ver o veto ao kit-antihomofobia, permitindo a homofobia ser transmitida desde dentro das escolas, com o aval do Estado; é ver o PLC 122 sofrendo alterações que impedem a criminalização da homofobia no Brasil.

E quem mais sofre com isso?
Quem mais sofre com essa situação são os trabalhadores. São as mulheres, LGBT´s, e negros de nossa classe. A final de contas que mais sofre com o aborto clandestino?  Não são as mulheres que pagam as caras clínicas clandestinas que realizam tal procedimento, mais sim as mulheres trabalhadoras que por não ter opção usam o SITOTEC e sofrem com as inúmeras seqüelas e morrem nas filas dos hospitais. Quem mais sofre com a violência a mulher? São as mulheres trabalhadoras que não podem denunciar seus agressores, porque lhes falta um lugar para garantir sua segurança, as casas abrigos, que Dilma deixa de financiar ao cortar 5 bilhões do orçamento. São as mulheres lésbicas trabalhadoras que sofrem com a lesbofobia e o machismo, que vêm sendo alvos do estupro corretivo e da ausência de delegacias da mulher na cidade para poder de fato prestar queixa contra esse crime acobertado pelo machismo que o consente. São os trabalhadores LGBTS que são relegados a expulsão da cidade em busca de segurança, melhores condições de emprego e lazer. São os trabalhadores  e a juventude negra que sofrem com as condições de trabalho e estudo, com a mira da polícia, com a destruição de suas raízes culturais, a perseguição dos quilombolas, a contra reforma urbana e a política de higienização social.

               Queria no dia de hoje deixar um recado: uma sociedade baseada na exploração do homem pelo homem, baseada na discriminação e no ódio às diferenças, uma sociedade que mata simplesmente pelo amor entre iguais, que violenta pelo simples fato de sermos mulheres, que acumula anos de opressão por sermos negras e negros, essa sim merece o título de uma sociedade doente. Uma sociedade suja, sem respeito, sem moral, sem espiritualidade, ou seja, seja lá qual mais adjetivos pejorativos nos é direcionado. O PSTU é o partido que não têm medo de denunciar os governantes e o grande capital, é o partido tem orgulho de dizer nas lutas, nas eleições, em qualquer espaço, que está ao lado dos oprimidos e explorados, que quer destruir esse sistema e construir uma sociedade igualitária, justa e socialista. Toda forma de amor vale a pena!

- Basta de violência aos explorados e oprimidos!
- Aplicação e ampliação da Lei Maria da Penha.
-Por leis mais duras e investimento no combate à violência à mulher.
-Construção de mais delegacias e casas abrigo em Santos.
-Campanha municipal pela aprovação do PLC 122.
-Chega de expulsão dos LGBT´s da cidade, por respeito e condições dignas de acesso aos serviços sociais, trabalho, estudo e lazer.
-Basta de genocídio aos trabalhadores e a juventude negra!

0 comentários:

Postar um comentário