6 de novembro de 2012

A Tribuna destila ódio contra moradores de rua


Política de higienização social avança a passos largos em Santos

Uma reportagem publicada ontem, segunda-feira (05/11), no jornal de maior circulação da Baixada Santista, A Tribuna, chocou e indignou diversos ativistas santistas que lutam contra a política de higienização social imposta aos trabalhadores e ao povo pobre. Não por acaso, pipocou na internet, sobretudo nas redes sociais, uma série de declarações de repúdio à matéria publicada pelo veículo. Um dia depois, nessa terça-feira (06/11), passou a circular na internet um vídeo postado no Youtube, que mostra toda a truculência da Guarda Municipal contra um morador de rua indefeso. O vídeo, gravado por um morador do bairro, atingiu em menos de uma semana cinco mil visualizações.



Assinada pelo repórter Maurício Martins, sob o título 'Moradores de rua invadem a orla e prejudicam o comércio', a matéria é uma sucessão de afirmações preconceituosas contra os moradores de rua que ocupam a orla da praia. Do primeiro ao último parágrafo do texto, o jornalista destila com sarcasmo e ironia todo o seu ódio contra aqueles que, segundo o jornal, "usam e abusam do espaço público".

A insistência em atribuir a imagem (sem qualquer prova) de que são drogados e alcoólatras, além de sujos, demonstra a  ação consciente de fornecer aos leitores um deprimente senso comum: a de que essas pessoas não passam de lixo humano. Em outro trecho, o repórter é ainda mais ousado e relata que "o sotaque evidencia que não são da cidade", flertando com o que há de pior em matéria de preconceito: a xenofobia.

Evidentemente, alinhada aos interesses da elite santista, que quer a todo custo transformar definitivamente Santos em uma cidade para os ricos, a publicação trata o drama dos moradores de rua como um caso de polícia. Neste sentido, não nos surpreende o fato de que o eixo do texto tenha sido a crítica à "ineficiência" e "corpo mole" da prefeitura no combate aos moradores de rua.

Quais os interesses por trás desta matéria?
O jornal A Tribuna não está sozinho nesta ofensiva contra os trabalhadores e o povo pobre. Reconhecida por publicar matérias bajuladoras sobre o boom imobiliário e o pré-sal, gerando falsas expectativas de desenvolvimento e crescimento econômico "para todos", a publicação agora assume um papel de destaque entre aqueles que defendem a política de higienização social que domina o país. 

Por "coincidência", as matérias de A Tribuna cobrando pulso firme do Poder Público estão sendo veiculadas a menos de dois meses da posse do futuro prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), cujo padrinho político, Geraldo Alckmin, comandou o massacre de aproximadamente 1.600 mil famílias do Pinheirinho, em São José dos Campos. Para os próximos quatro anos, devemos esperar o pior de um governo cuja marca é a repressão.

Contrarreforma urbana
Está claro que a elite santista está preparando um fértil terreno para iniciar, em Santos, um amplo projeto de contrarreforma urbana que já se espalha no país por conta da Copa do Mundo (2014) e dos Jogos Olímpicos (2016), cujo pano de fundo são remoções de sem-teto, repressão aos movimentos sociais, além do aumento da “limpeza” social e da política de extermínio. 

Para se ter uma ideia, despejos arbitrários e remoção de comunidades inteiras em processos ilegais estão presentes em quase todas as grandes cidades. O Dossiê “Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil”, produzido pelos Comitês Populares da Copa, aponta que entre 150 mil e 170 mil famílias já tiveram ou correm o risco de terem violados seus direitos à moradia adequada em razão dos jogos. No entanto, o número pode ser ainda maior, pois não há dados disponibilizados pelos governos. 

Uma cidade rica para ricos
Em Santos, as grandes construtoras que desembarcaram na cidade não querem que os seus empreendimentos milionários, construídos na orla da praia, tenham prejuízos financeiros por causa de moradores de rua incômodos. Por isso, com a ajuda da imprensa conservadora, reivindicam de um Estado omisso e repressor medidas "enérgicas" contra a população pobre. 

Dados divulgados pelo próprio jornal A Tribuna, em outubro, deveriam ajudar a publicação a entender o porquê da existência de moradores de rua. Santos é a segunda cidade do Estado em proporção de domicílios de classe alta (57,60% do total), perdendo apenas para São Caetano do Sul (62,79%). Na Baixada Santista, nenhum outro município atinge um terço. 

Entre 2000 e 2010, enquanto a população santista aumentou 0,3%, as favelas da cidade viram a sua população aumentar em nada menos que 79,5%. Existem nos morros, palafitas e outras regiões periféricas da cidade 10.767 moradias. Isso sem citar as residências em cortiços, que não fazem parte deste levantamento. Os dados são do IBGE, na comparação dos censos.

Um levantamento da Secretaria de Estado da Habitação, realizado no 2º semestre do ano passado, apresenta números semelhantes e revela que coexistem duas realidades em Santos. De um lado, os ricos; de outro, a população pobre. Segundo a pesquisa, existem 15.002 famílias em condições de habitação inadequadas, em palafitas ou nos morros. Ao todo, são 9.455 domicílios espalhados em oito favelas da cidade e 5.547 residências espalhadas nas 22 áreas de risco existentes na cidade. Além disso, as últimas informações divulgadas pela prefeitura relatam um déficit habitacional de 16.876 moradias. Isso sem falar nas centenas de famílias, não apontadas nesse estudo, que sem condições de arcar com aluguéis cada vez mais caros são despejadas.

Com todos esses números, que evidenciam a negligência do Estado no que se refere a políticas públicas, não nos surpreende o fato de que seja cada vez mais comum a proliferação de moradores de rua na cidade. Ora, se nem mesmo a classe média está suportando o custo de vida altíssimo da cidade, sendo expulsa para municípios vizinhos, o que podemos dizer da população pobre, que não tem acesso a educação e saúde de qualidade e a uma moradia digna? E agora nem mesmo as ruas, que tem sido o lugar reservado pelo Estado a essas famílias, podem ser ocupadas. 

Para atender aos interesses dos financiadores de suas campanhas, os políticos que estão no poder não hesitarão em repetir as cenas vistas no vídeo em que a Guarda Municipal violenta um morador de rua indefeso.

Neste sentido, a enorme especulação imobiliária que domina a cidade age em conluio com os grandes partidos, reproduzindo uma realidade que se perpetua em todas as cidades. Em São Paulo, por exemplo, palco de grandes conflitos entre o Estado e a população pobre, os maiores financiadores do PSDB foram as empresas da construção civil. Todas têm contratos com o Estado. Com o PT não é diferente. Só o governador baiano Jaques Wagner teve 40% de sua última campanha financiada por empreiteiras. 

Por isso, o PSTU repudia a matéria publicada pelo Jornal A Tribuna e convoca a população santista a não depositar qualquer confiança nos governos municipal, estadual e federal. Ambos, PSDB e PT, representam o mesmo projeto político: expulsar os pobres de áreas com potencial imobiliário para beneficiar os especuladores e grandes construtoras - principais financiadores de suas campanhas eleitorais.

A luta pelo direito à moradia deve se ampliar. O capital imobiliário e os governos já decidiram que a população pobre não tem direito a moradia e, sequer, ao espaço público. O governo Paulo Alexandre Barbosa irá, certamente, acelerar o processo de criminalização da pobreza e sairá em defesa dos ricos.

O PSTU, desde já, se coloca na oposição de esquerda à futura gestão da Prefeitura de Santos. Para o movimento popular e sindical santista resta um único caminho. Organizar a resistência e derrotá-los.

Luiz Xavier
Tamiris Rizzo
Direção Executiva PSTU - Regional Santos

1 comentários:

Nenhuma novidade...governo elitista voltado a burguesia - classes alta e media - santista.

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