1 de abril de 2013

Mais uma vítima fatal do machismo: uma garota de 16 anos

CRIME EM SÃO VICENTE É MAIS UM RETRATO BRUTAL DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Tamiris Rizzo, da direção municipal do PSTU Baixada Santista

Uma adolescente de apenas 16 anos morreu no último domingo (31/03), feriado de páscoa, tentando salvar a amiga de mais um caso de machismo que teve um desfecho trágico no bairro Vila Margarida, em São Vicente. Andressa Nayara da Silva foi atropelada, mais de uma vez, pelo ex-namorado de uma amiga que tinha acabado de ser agredida por ele. O agressor, Natailson José Ribeiro, de 30 anos, também atropelou outra pessoa e fugiu após o crime.

A origem deste crime bárbaro teria sido o fim do namoro, que durou oito meses. A ex-namorada de Natailson, que tem 18 anos, havia terminado o relacionamento na semana passada após não aguentar mais as agressões do ex-companheiro. Pouco antes do crime, Natailson foi até a casa da ex com flores para tentar reatar o namoro. “Não aceitei reconciliar e aí ele disse que as flores seriam para o meu velório”, contou a jovem, em entrevista ao Jornal A Tribuna. Em seguida, ela começou a ser agredida com socos e chutes. “Ele quebrou o meu nariz, fiquei com os dois olhos roxos e estou com dores musculares”.

Andressa, que passava pela rua, tentou ajudar a amiga. Natailson deixou o local após muita discussão, mas retornou ao local com o automóvel em alta velocidade, jogando o carro contra Andressa. Ela chegou a ser levada ao Hospital Municipal de São Vicente, mas não resistiu.


Essa tragédia tem nome: machismo
Andressa foi mais uma vítima do machismo, que leva milhares de mulheres à morte todos os anos em nosso país. O mesmo machismo responsável pela morte de Eliza Samudio, morta pelo ex-goleiro Bruno, pela morte da cabeleireira mineira Maria Islaine, assassinada em seu trabalho pelo ex-marido após denunciá-lo oito vezes à Polícia, e pela morte da advogada Mércia Nakashima, assassinada em São Paulo pelo seu ex-companheiro. Casos que foram noticiados exaustivamente na imprensa e que voltaram aos holofotes da mídia, mas que nem de longe expressam os inúmeros casos de agressão cometidos contra milhares de mulheres no Brasil.

A impunidade alimenta o machismo
Segundo pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto Zangari, 10 mulheres são mortas por dia no Brasil. Além disso, de acordo com o Mapa da Violência de 2012, nos últimos dez anos mais de 43 mil mulheres foram assassinadas no País. O documento afirma ainda que houve um aumento de 217,6% no número de mulheres assassinadas no país em 30 anos.

A maioria (42,5%) delas é assassinada por seus maridos ou ex-companheiros, motivados por ciúmes, inconformados com o fim de uma relação ou com a resistência da mulher em se submeter a eles. Entre mulheres de 20 a 49 anos o índice é ainda maior: eles são responsáveis por 65% das agressões.

Se de uma forma geral, a impunidade é grande em nosso país, nos casos de violência contra a mulher ela é quase a regra. Há bem pouco tempo, os casos de assassinatos de mulheres por seus maridos eram interpretados como “legítima defesa da honra”. Antes da Lei Maria da Penha, o homem que agredia uma mulher era no máximo condenado a pagar cesta básica. Hoje, mesmo com a lei mais rígida, não vemos o homem agressor ser preso. Ao contrário, mesmo depois de denunciado, a violência sempre se repete, culminando em muitos casos com a morte da mulher.

Lei Maria da Penha e a falta de verbas
Apesar da Lei Maria da Penha ter sido aprovada há mais de seis anos, a violência contra as mulheres longe de diminuir vem aumentando. Em São Paulo, no ano 2000, as mulheres representavam 7% do total de vítimas de assassinato. Em 2010, esse percentual saltou para 16%. Já no Rio de Janeiro, os casos de estupro aumentaram 88% em 11 anos. Embora tenha significado um importante avanço, a lei sozinha não resolve o problema. São necessárias políticas públicas que garantam sua aplicação, como delegacias especializadas, casas abrigo, centros de referência e outras medidas que dependem de investimento público. Atualmente, menos de 10% dos municípios brasileiros possui delegacias especializadas e pouco mais de 1% conta com casas abrigo. Faltam, também, qualificação e treinamento dos profissionais que atuam na área.

Para reduzir a violência contra as mulheres são necessárias vontade política e recursos públicos. Mas, infelizmente, o que vemos é justamente o contrário. Entre 2007 e 2011, o governo federal destinou apenas R$ 132 milhões para a área. E o investimento caiu pela metade, entre 2009 e 2011. Em um sistema em que não há instrumentos para que as mulheres sejam protegidas contra a violência, elas têm de se auto-organizar contra o machismo. Os sindicatos, os movimentos populares e o movimento de mulheres classistas podem ser um apoio importante nessa luta.

Derrotar o capitalismo para derrotar a violência
No sistema capitalista, para amenizar a violência, é necessário uma ampla campanha contra o machismo. É preciso fortalecer as mulheres e as entidades dos movimentos da classe devem assumir essa luta. O fim do machismo, porém, só será possível com o fim da sociedade de classes que sustenta a opressão e a exploração. É preciso derrotar o capitalismo e construir uma sociedade socialista, onde a vida será livre da violência e do machismo.

Por isso, o PSTU defende:

- Enfrentamento à violência contra a mulher
- Aplicação e ampliação da Lei Maria da Penha através de mais investimento público!
- Contra a reforma do código penal!
- Abertura de mais delegacias da mulher com funcionamento 24 horas, sete dias por semana e - policiais qualificados para o atendimento às vítimas!
- Construção de casas abrigo e centros de referência especializados no atendimento de mulheres vítimas de violência!
- Investimento nas áreas sociais e em políticas que permitam a redução da desigualdade e o acesso das mulheres a melhores condições de vida!
- Pelo fim da opressão da exploração, por uma sociedade socialista!

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