14 de agosto de 2013

Dilma abandona promessa eleitoral e articula privatização do pré-sal

Agendado para 21 de outubro deste ano, leilão do Campo de Libra é a maior entrega do petróleo nacional de toda a história. Estão em jogo R$ 3 trilhões.

Está no youtube (site de compartilhamento de vídeos na internet) para quem quiser ver e rever. Dilma, com um sorriso sarcástico no rosto, na emissora TV Bandeirantes, se dirige ao seu oponente José Serra (PSDB) e dispara: “Certamente, Serra, você não é o cara. Você tem mil caras!”.

A acusação é feita no debate promovido pela emissora durante o 2º turno da eleição presidencial de 2010. E tem um objetivo: mostrar que o candidato tucano, ao contrário do que tentava inutilmente omitir e até mesmo negar, defendeu sim a privatização da Petrobrás durante os anos sombrios do governo neoliberal de FHC. O objetivo foi certeiro e Dilma se elegeu, sobretudo pelo discurso antiprivatização na reta final da campanha. 

2013. Três anos depois, sob o governo de Dilma (PT), a frase de impacto usada por ela naquele debate se volta, curiosamente, contra ela. E de maneira implacável: a candidata que se mostrava a guardiã do petróleo brasileiro realizou a 11ª rodada dos leilões do petróleo e, não satisfeita, será a responsável por consolidar, em 21 de outubro, o leilão do pré-sal no Campo de Libra. Caso se concretize, será a maior entrega do petróleo brasileiro de toda a história.

O que é Libra?
Uma das maiores descobertas da Petrobrás, já sendo considerado um dos maiores poços de petróleo do Mundo, o campo de Libra está localizado na área do pré-sal da Bacia de Santos. Para se ter uma ideia da importância deste campo, as empresas que irão abocanhar esta riqueza entrarão no leilão sem qualquer risco de investimento, pois a Petrobrás e seu corpo técnico de empregados já fizeram o trabalho exploratório que comprova o sucesso do poço perfurado. 

O próprio representante do governo no setor, o Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou sem cerimônia que “os empresários praticamente não correm riscos... só teriam prejuízo se não encontrassem petróleo no pré-sal, o que é praticamente impossível”. Lobão, sem constrangimento, ainda completou. “Recorde-se que nos Emirados Árabes, por exemplo, as empresas ficam com 2% do petróleo, do resultado da extração do petróleo, e no mundo inteiro há interesse pelo petróleo dos Emirados Árabes. Aqui os empresários vão ficar com muito mais”.

Libra possui, pelo menos, 14 bilhões de barris de petróleo e seu valor está estimado em, no mínimo, R$ 3 trilhões. É o equivalente a 20 vezes a soma do atual orçamento da saúde e da educação – juntos! Seria suficiente para garantir passe-livre aos estudantes e desempregados, 10% do PIB para a educação imediatamente e mais investimentos em saúde.

O escândalo desta entrega é tão grande que não são apenas os movimentos sociais e os sindicatos petroleiros que se enfrentam contra este leilão. Até mesmo figuras como o ex-presidente da Petrobrás, José Gabrielli, petista de carteirinha, se posicionaram contra alguns dos pontos do leilão do campo de Libra. Técnicos altamente capacitados da empresa, como diversos engenheiros, também se opõem ao leilão. Ildo Sauer e Fernando Siqueira são apenas dois exemplos.

Discurso x prática
Muitos trabalhadores, dentre eles boa parte dos petroleiros, acreditaram que o PT mudaria a história do país. Acreditaram que as prioridades seriam invertidas e que, enfim, poderiam reivindicar o governo como seu. Mas, infelizmente, não é isso o que vem ocorrendo nos dez anos de PT no poder.

As privatizações continuam (portos, aeroportos, estradas e agora o nosso petróleo), os bancos nunca lucraram tanto (só o Itaú obteve neste ano o 2º maior lucro da história dos bancos brasileiros, cujo valor alcançado é maior que toda a economia de 33 países); e a reforma agrária continua estacionada. Cada vez mais aliada ao agronegócio, Dilma foi a presidente que menos assentou famílias nos últimos 20 anos, perdendo até para FHC. Uma vergonha! 

Mais do que isso, não contentes em dar continuidade à política econômica de FHC, Lula e, agora, Dilma estão aprofundando uma lógica de governo que sangra metade do orçamento da União para o pagamento da dívida pública aos especuladores e banqueiros, em detrimento de investimentos em áreas como educação, saúde e transportes.

No setor de petróleo, o cenário não é melhor. Tivemos cinco rodadas de leilão do petróleo no governo tucano, na gestão petista já são seis rodadas. Agora, se aproxima a maior entrega do petróleo brasileiro de toda a história e, por determinação do Governo Federal, a empresa vem sofrendo um processo sistemático de sucateamento de suas instalações e das condições de trabalho. 

A política de desinvestimento aplicada recentemente aumentou a terceirização, os casos de assédio moral e a pressão por mais produtividade em menor tempo e em piores condições de trabalho. Em contrapartida, diminuíram drasticamente os investimentos em segurança. Os riscos de acidente são cada vez maiores.

Na corrida presidencial de 2010 a hoje presidente Dilma conseguiu se diferenciar no 2º turno de José Serra justamente por ter adotado um discurso que valorizava a soberania nacional e encarava o pré-sal como um passaporte para o futuro. Agora é hora de acabar com as contradições entre discurso e prática e cancelar a entrega do petróleo brasileiro.

Organizar a luta contra o leilão de Libra e construir o 30 de agosto pela base!
O Dia Nacional de Paralisações, marcado para 30 de agosto, está se aproximando. E o Brasil promete parar, num dia de greves ainda mais radicalizadas do que aquelas realizadas em 11 de julho. Parte da pauta unitária tirada pelas centrais sindicais é a luta contra os leilões do petróleo, com a defesa por uma Petrobrás 100% Estatal. Temos que ir para as ruas ampliar esta luta para toda a sociedade.

Este é o papel que o ‘Comitê O Petróleo Tem Que Ser Nosso’ da Baixada Santista vem cumprindo, ainda que embrionariamente. Reativado recentemente, esta organização tem a importante tarefa de elaborar políticas e ações para impulsionar esta campanha na região. Atualmente, o grupo é formado por petroleiros aposentados, petroleiros da ativa, representantes de outros sindicatos e centrais, como a CSP-Conlutas, movimentos sociais e entidades estudantis, como a ANEL. 

Mas é preciso ampliar ainda mais espaço, trazendo todos os lutadores para o comitê. É hora de fortalecer a luta contra o Leilão de Libra, com a defesa intransigente por uma Petrobrás 100% Estatal.

1 comentários:

Estamos sempre sendo enganados por esses(as) políticos(as) de plantão. BASTA!!!

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