20 de agosto de 2013

O capitalismo e a catástrofe ambiental

Saymon de Oliveira Justo, Historiador

Existe praticamente um consenso no meio científico a respeito do desastroso destino que nos aguarda em razão da voracidade predatória como atacamos os recursos naturais do planeta. Milhões e milhões de litros de esgoto são despejados por minuto em nossos rios e mares; as chaminés das indústrias continuam lançando despudoradamente suas blasfêmias ao firmamento; escavamos nossas montanhas em busca de minérios como uma praga de cupins em madeira nobre. Nesse contexto, governos, sociedade civil, organizações não governamentais, cientistas, partidos, enfim, vários segmentos da sociedade discutem meios para evitar a tragédia que se desenha cada vez mais nítida no horizonte. 

Porém, uma pergunta constrangedora se coloca com cada vez mais força: existe salvação para o planeta sob o jugo do capitalismo?

O desenvolvimento da indústria e do capitalismo na Inglaterra a partir do século XVIII constitui uma verdadeira revolução, um marco para a epopeia humana na Terra. Distâncias foram encurtadas pelo barco e locomotiva a vapor, uma quantidade colossal de mercadorias era cuspida das fábricas inglesas e, hoje, esse desenvolvimento atingiu cumes talvez nunca imaginados nem pelo mais criativo escritor de ficção de alguns séculos atrás. 

Contudo, a contradição, no capitalismo, é incontornável: todos os avanços tecnológicos e científicos estão a serviço do lucro; e não da elevação da qualidade de vida das pessoas. 

Vejamos. O homem chegou à Lua e existe a possibilidade bastante concreta da exploração de Marte, mas, por outro lado, bilhões de seres humanos não possuem as mínimas condições de moradia. Conseguimos produzir alimentos como nunca, porém, boa parte da população mundial ainda sofre com os males da fome todos os dias. A comunicação entre qualquer ponto do planeta se tornou praticamente instantânea com a telefonia e a internet, enquanto bilhões de pessoas ainda são completamente analfabetas ou analfabetas funcionais. Compreendemos e combatemos muitas doenças que antes dizimavam populações inteiras, mas muitos dos segredos da medicina, que poderiam salvar a vida de milhões, estão nas mãos das grandes empresas farmacêuticas.

Em poucas palavras, o capitalismo possibilitou inegáveis e grandiosas transformações na ciência e na tecnologia, contudo, esses avanços incríveis, que deveriam proporcionar uma vida melhor a todos, servem apenas à sede insaciável de lucro das grandes empresas e bancos capitalistas. 

Mesmo relevando as não desprezíveis contradições do capitalismo no que diz respeito à distribuição da riqueza produzida - ou seja, a desigualdade social abissal inerente ao sistema, resta ainda outra contradição, mais profunda e perigosa: o capitalismo se alimenta da destruição. Destruição de florestas, de rios, do ar que respiramos, do solo que pisamos. Isto é, da destruição das condições de produção e reprodução da vida. 

O sistema capitalista se mantém pela produção e consumo desenfreados e desorganizados. A “lógica capitalista” não está direcionada ao atendimento das necessidades sociais, ao contrário, a produção capitalista volta-se aos interesses da acumulação de capital, e nesse processo ela mesma converte-se numa gigante máquina produtora de necessidades “artificiais” para realização de lucros privados.

O produtor capitalista raciocina no sentido do maior lucro possível com os menores custos e, dessa forma, não interessa a finalidade do que é produzido, ele quer vender a maior quantidade possível, seja de toneladas de enfeites para geladeira ou produtos de luxo para madames milionárias. Servindo ao seu lucro, o produtor capitalista tem ainda toda uma máquina de propaganda levando “falsas” necessidades pelas ondas de TV, rádio ou por revistas, jornais e outdoors, isso sem falar em toda essa ideologia veiculada pelos sistemas educacionais.

Dentro da lógica do capitalista, não importa se a produção de vacinas ou medicamentos é mais importante que automóveis de luxo, pois o Capital fareja e procura o lucro e não a necessidade humana e social. 

A economia capitalista se mantém a partir da produção, que, como diria um conhecido filósofo, engendra o consumo, que também engendra a produção e assim ad infinitum. Esse ciclo pode não aparentar nada de errado para alguns, porém, fica cada vez mais evidente que o planeta não suportará por muito tempo mais os atuais níveis de produção e consumo guiados e organizados pela lógica capitalista. 

Mesmo que os parâmetros do crescimento populacional global se mantivessem estáveis por uns cinco séculos, algo utópico por ora, a saúde da economia mundial capitalista está tão intrinsecamente ligada à destruição ambiental, que tal fato seria irrelevante. Thomas Malthus, se ainda vivesse entre nós, provavelmente argumentaria que enquanto as políticas para o meio ambiente crescem em progressão aritmética, a destruição sob o capitalismo cresce em progressão geométrica.

Analisando a economia capitalista com todas suas especificidades e consequências, podemos voltar à questão acima enunciada: existe salvação para a catástrofe ambiental que se avizinha dentro dos marcos do capitalismo? Talvez seja a hora de deixarmos de lado as pequenas práticas de apenas reciclar latinhas ou urinar no chuveiro e passarmos para algo mais efetivo. Talvez apenas uma nova organização econômica e social, com uma produção planejada para atender o bem estar de todos, quer dizer, uma sociedade socialista, possa nos tirar desse caminho de destruição para o qual caminhamos firmemente, levando ainda conosco milhares de inocentes espécies que coabitam esse “pálido ponto azul”.

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