20 de outubro de 2014

Recentes crimes contra mulheres no litoral de SP expõem o caráter machista de nossa sociedade

Fabíola Calefi, da Secretaria de Mulheres do PSTU Baixada Santista

O vídeo circula há várias semanas nas principais redes sociais da internet. Até a data da publicação desta matéria, as cenas de agressão e tortura sofrida por uma menor de idade de Praia Grande já haviam batido a casa das 40 mil visualizações no Youtube. As imagens são chocantes e não dão margem para dúvidas: o machismo é um dos maiores sintomas da barbárie da sociedade capitalista. 

Divulgado no final de setembro, o vídeo mostra uma jovem de 17 anos sendo agredida por algumas mulheres. A vítima teria saído com o marido da acusada, que na gravação é vista agredindo a adolescente com queimaduras de cigarro, tapas e tortura psicológica.

Recentemente, num vídeo com mais de 400 mil visualizações, a acusada grava um depoimento se defendendo das acusações; reclama que vem sendo julgada e que a vida dela "está um inferno". Ela acusa a vítima de "se fazer de santa, coitada" e interferir no relacionamento dela com o então companheiro. Em um determinado momento da gravação, a suspeita desabafa: "O mundo inteiro está contra mim. Eu peço desculpa para a [vítima], peço desculpas para a mãe dela e peço pra vocês tentarem ver o meu lado, porque eu não sou essa pessoa ruim”. Sintoma de uma sociedade extremamente machista, e não apenas uma triste coincidência, este caso não é - infelizmente - um caso isolado na Baixada Santista. Recentemente, outros dois casos vieram à tona por meio da imprensa da região.

Outro vídeo, também gravado em Praia Grande, mostra duas jovens sendo agredidas e torturadas por outras mulheres. Divulgado nas redes sociais por uma das agressoras, esse crime também foi motivado por uma suposta traição. Elas recebem tapas, socos, são xingadas e têm o cabelo cortado. No fim do vídeo, a amiga é obrigada a agredir a outra vítima, que pede a interrupção da sequência de socos alegando estar grávida. Segundo informações da polícia, o vídeo teria sido gravado no mês de setembro.

Com um desfecho trágico, outro caso voltou a ser lembrado nos últimos dias com o anúncio da condenação a 13 anos de prisão do ex-namorado de Ivone Maria de Santana Santos, doméstica assassinada por ele na manhã de 9 de maio de 2013, na Ponta da Praia, em Santos. Na época do crime com 20 anos, o réu alegou ter matado a prima, de 30 anos, porque não se conformou com o fato de ela terminar recentemente o namoro e não querer reatar o relacionamento.

Três tragédias, um drama
Os três fatos relatados acima estão longe, infelizmente, de ser uma exceção em nossa região. Pelo contrário, acontecem todos os dias, em todo o país. Mais do que isso, refletem como em nossa sociedade o machismo ainda é uma ideologia dominante, que favorece a exploração e oprime as mulheres, principalmente da classe trabalhadora. Uma ideologia que divide nossa classe, separa homens e mulheres, causando sofrimento e barbaridades.

No caso da violência cometida por mulheres contra outras mulheres percebemos, até mesmo na repercussão dos casos, como a competição entre as mulheres é estimulada. Tirar satisfação ou agredir a segunda mulher envolvida no relacionamento é a expressão disso.

Em nenhum momento se questionou o comportamento dos homens, que seguem vivendo conforme sua vontade, respaldados no mito de que aos homens tudo é permitido. A monogamia aqui é imposta somente às mulheres, seu desejo sexual é reprimido e considerado imoral, mas aos homens está livre a poligamia e manutenção da prostituição para satisfazer seus desejos sexuais.

Percebemos, com esses casos, como o machismo resiste em manter a concepção de que a mulher é um sujeito inferior e que deve se submeter às vontades dos homens. E as mulheres, sejam elas as agredidas ou as agressoras, são todas vitimas dessa lógica.

O fato é que, além de deixar marcas, o machismo mata. Todos os dias 15 mulheres morrem por dia vítimas de violência machista. Esses dados comprovam que nossa sociedade vive sob uma lógica em que as mulheres são propriedade do homem. A doméstica Ivone foi mais uma vítima de uma sociedade em que à mulher não é concedido o direito de ter vontade própria e não é respeitada a sua decisão de não se submeter a determinados relacionamento e comportamentos de seus companheiros. 

Somado a esse triste fato, temos uma Justiça que não pune esses crimes. Inclusive ainda contém definições, para crimes de assassinato de mulheres por seus companheiros, como “defesa da honra”. E as mulheres que resolvem denunciar seus agressores não encontram número suficiente de delegacias ou um atendimento justo, sendo muitas vezes incentivadas pelos policiais e delegados a “deixar pra lá”. Soma-se a isso, o acesso quase nulo a casas abrigos e atendimento médico ou jurídico especializados - itens garantidos formalmente pela Lei Maria da Penha.

Na inauguração da Sede do PSTU, em Cubatão, 
Zé Maria abordou o tema de Opressões

É preciso investimento no combate ao machismo
As principais vítimas da violência são as mulheres trabalhadoras. Mesmo assim, Dilma Roussef segue privilegiando os banqueiros e grandes empresários. Em 2012, cortou R$ 23,4 milhões no orçamento da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Já o orçamento federal de 2014 prevê a destinação de 42% do total de R$ 2,48 trilhões para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública. Desse jeito, não sobra nada para as mulheres trabalhadoras.

Sem investimento é impossível aplicar e ampliar a Lei Maria da Penha. Nós do PSTU acreditamos ser possível a reversão desse quadro, mas para isso as prioridades do governo precisam ser invertidas. É impossível pensar a aplicação da Lei Maria da Penha sem a construção de casas abrigos, sem a criação de centros de referência ao atendimento da mulher vítima de violência, sem delegacias especializadas com profissionais capacitados.

Enquanto lutamos para que a lei Maria da Penha seja efetiva contra a violência doméstica, na sociedade de conjunto existe uma educação sexista e machista; existem programas na mídia que colocam a mulher numa posição de objeto sexual; propagandas de cerveja, casas noturnas e marcas esportivas que tornam o corpo da mulher um desejo a ser consumido.

Com as mulheres negras, homossexuais, bissexuais e transexuais a opressão machista é ainda mais cruel. As mulheres negras, como dizem o mito popular são ”boas pra transar, mas não pra casar”, as mulheres homossexuais estão expostas a violência do estupro corretivo, no qual o homem se dá ao direito de lhe mostrar “o que é bom de verdade”, as transexuais são violentadas e mortas. O Brasil é o pais com mais mortes de transexuais do mundo.

O PSTU acredita que todas as pessoas, independente de sua orientação sexual e de suas escolhas, devem ter seus diretos garantidos e serem respeitados com uma vida livre da opressão e exploração. Por isso, acreditamos que só a luta muda a vida, por isso lutamos por uma outra sociedade, uma sociedade livre de todas as formas de exploração e opressão, uma sociedade socialista. 

- Contra a homofobia, bifobia e transfobia!
- Contra o Estatuto do Nascituro e pela Legalização do Aborto! 
- Investimento para aplicação e ampliação da Lei Maria da Penha 
- Contra a violência machista - Trabalho igual, salário igual 
- Por uma sociedade livre da exploração capitalista, por uma sociedade socialista 
- Creches, lavanderias e restaurantes públicos para a libertação das mulheres 
- 10% do PIB para a Educação e 10% do PIB para a Saúde

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